Bispos eritreus denunciam um país "desolado"
Embora não condenem diretamente o Governo eritreu - que ainda não comentou a carta -, a ação dos bispos é vista como bastante arriscada, num país que estes descrevem como "desolado", visto que tantos eritreus estão na prisão, no exército, ou emigraram.
O país "desolado" é descrito pelas organizações de direitos humanos como uma "prisão gigante", onde dezenas de prisioneiros políticos, muitos sem julgamento prévio, estão detidos em campos no deserto. A Amnistia Internacional dizia o ano passado que cerca de 10 mil eritreus foram presos por motivos políticos desde a independência do país, em 1993. Números negados pelo Governo, segundo a britânica BBC. As Nações Unidas (ONU) afirmam que pelo menos 3 mil de eritreus fogem para o Sudão e para a Etiópia todos os meses.
A carta dos bispos da Igreja Ortodoxa eritreia, Mengsteab Tesfamariam de Asmara, Tomas Osman de Barentu, Kidane Yeabio de Keren e Feqremariam Hagos de Segeneiti, tem o título "Onde está o teu irmão?", uma referência a Génesis 4:9, quando o Senhor pergunta a Caim pelo seu irmão Abel. Nela, os autores denunciam que hoje os eritreus rumam a "países em paz, países justos, de trabalho, onde nos podemos expressar livremente, onde se trabalha e recebe".
Os quatro bispos afirmam que "todos aqueles que foram presos devem ser tratados de forma humana e com compaixão e, de seguida, a partir das acusações contra eles, devem ser apresentados perante um tribunal". A carta foi publicada em maio, no vigésimo terceiro aniversário da Independência da Eritreia, mas só em junho foi publicada online.